Na fronteira, venezuelanos relatam medo e fome após violência
Na manhã desta terça-feira, 21, era incomum o cenário na tenda da Operação Acolhida, em Pacaraima, na fronteira entre Roraima e a Venezuela. Em vez das costumeiras filas de refugiados, que até pouco chegavam a dar voltas do lado de fora do equipamento do Exército, responsável por receber e fazer triagem dos imigrantes, havia diversos bancos de espera vazios.
“Queimaram todos os meus documentos, só me sobrou a roupa do corpo”, diz o engenheiro de sistemas Raul León, de 36 anos, um dos venezuelanos atacados no sábado. Havia cruzado a fronteira na véspera. “A triagem demorou mais de um dia”, conta.
Após as agressões de sábado, León pensou em voltar. “Senti medo, mas depois as coisas foram se acalmando”, relata. “Os brasileiros pensaram que foram venezuelanos que agrediram o comerciante. Entendo. Mas nenhuma violência se justifica.”
Ao lado da mulher e de cinco filhos, a mais nova de dois anos e o mais velho de 12, o comerciante Gregorio Bello, de 37 anos, estava com a passagem comprada para o Brasil quando recebeu a notícia do incêndio no acampamento. “Não podia devolver, então pensei: ‘vamos em nome de Deus’.”