
Atentado contra Bolsonaro, corresponde à barbárie que vivemos nos dias atuais
Atentado cometido contra o presidenciável do PSL, Jair Bolsonaro, na tarde da última quinta-feira 6, em Juiz de Fora (MG), – um ato sem precedentes desde a redemocratização –, pode cristalizar um cenário que vinha se consolidando nas recentes pesquisas eleitorais:
A quase inevitável ascensão ao 2º turno da corrida presidencial. Eram 16h quando o ex-capitão do Exército sentiu o peso do extremismo de uma campanha que partia, como em 2014, para uma densa e perigosa atmosfera alicerçada pelo clima do “nós contra eles”: levou uma facada no abdômen enquanto fazia uma caminhada no centro da cidade mineira.
Bolsonaro estava sendo carregado por simpatizantes quando uma pessoa desferiu uma facada na altura da barriga do candidato. O ataque o atingiu , apesar de ele usar um colete a prova de balas. O corte entrou na região abaixo do colete, num local desprotegido. Na própria quinta-feira, o comandante do Exército, general Villas Boas, convocou uma reunião emergencial do Alto Comando, que reúne 16 generais quatro estrelas, para tratar do tema.
O presidenciável estava no meio de uma enorme multidão e seus simpatizantes perceberam o momento do ataque, em que o candidato começou a sangrar. Bolsonaro foi imediatamente levado para a Santa Casa de Juiz de Fora e a primeira informação era de que não havia sido nada grave e que teria levado seis pontos no abdômen.
Num segundo momento, no entanto, veio a confirmação de que o corte atingiu o fígado e a alça intestinal. A lesão hepática o levou a ser submetido a uma cirurgia de urgência. Por volta das 18h, as informações do corpo médico davam conta de que o estado de Bolsonaro era instável e muito grave – o sangramento abdominal não havia cessado.
O agressor foi preso ainda no meio da multidão. Adélio Bispo de Oliveira, de 40 anos, morador na cidade de Montes Claros, foi o autor do ato extremo. Tendo justificado o seu o ato alegando que foi “uma ordem de Deus”.
Em sua página no Facebook, Adélio, que foi filiado ao PSOL entre 2007 e 2014, apresenta posts com dizeres “Lula livre” e “Fora Temer”. Ou seja, tudo indica que o pano de fundo do crime possa ter sido mesmo a disputa eleitoral.
A investigação sobre o atentado será comandada pela Polícia Federal, já que o candidato, por ser parlamentar, tinha sua segurança pessoal sendo feita por policiais da PF. Os demais candidatos ao Planalto repudiaram o atentado. A Ordem dos Advogados do Brasil emitiu nota dizendo que “a democracia não comporta esse tipo de situação”. “A realização das eleições em ambiente saudável depende da serenidade das instituições e militantes políticos. O processo eleitoral não pode ser usado para enfraquecer a democracia. Neste momento, cabe a reflexão a respeito do momento marcado por extremismos, por discursos de ódio e apologia à violência. Tudo isso apenas estimula mais violência, numa situação que prejudica a todos”, disse a OAB.
O atentado acontece um dia depois do Ibope ter divulgado pesquisa em que Bolsonaro aparece liderando com folga as pesquisas de intenção de votos, com 22%, mas com rejeição em alta (44%) – perdia para todos no 2º turno, à exceção de Fernando Haddad, do PT. Nessa mesma pesquisa, o segundo lugar estava sendo disputado pelo candidato do PDT Ciro Gomes, com 12%, por Marina Silva (Rede), também com 12% e por Geraldo Alckmin (PSDB), que subiu de 7% para 9%. Os três em empate técnico.
O atentando, segundo cientistas políticos, pode reverter a curva ascendente de rejeição, – incapaz de tirá-lo do segundo turno, mas o suficiente para ser derrotado por quase todos na etapa final do pleito, – ao transformar o candidato do PSL, acusado por adversários políticos de disseminar o ódio na campanha, em vitima do processo eleitoral. Sobretudo pelo fato de que o agressor assumir um claro viés de esquerda, espectro político combatido por Bolsonaro.
Se já não bastasse o fato de o candidato do PSL liderar as pesquisas com alguma folga sobre os demais, a polarização, na atual circunstância política, tende a beneficiá-lo. Várias mobilizações foram organizadas pelo País em solidariedade ao candidato do PSL. Para dar a exata medida do clima que pode ser instaurado na campanha de agora em diante, o presidente do partido do presidenciável, advogado Gustavo Bebianno, que acompanhava Jair Bolsonaro na Santa Casa de Misericórdia, disse sem rodeios que “a guerra está declarada”.
Ele disse que alertou Bolsonaro a não participar da caminhada, pois havia recebido informações da PF de que grupos opositores se preparavam para um confronto. “Falei ‘não vamos’. Tem informes da PF que ia ter um pessoal para confrontar. Além disso, é um lugar cheio de prédios, favorável para arremessarem coisas. Mas ele quis ir para a multidão.”, afirmou Bebianno. Independentemente de preferências e colorações partidárias, o ataque a Bolsonaro, assim como o recente assassinato de Marielle Franco, no Rio, constitui uma afronta à democracia representativa. Sem espaço para relativizações. É o retrato mais bem acabado da barbárie em que vivemos.
Foto: Crédito: Fábio Motta