Populismo é a principal semelhança entre os ex-presidentes, Bolsonaro e Fernando Collor
São Paulo — Uma pesquisa feita pelo grupo Team Populism apontou que Jair Bolsonaro é o primeiro presidente populista do Brasil desde Fernando Collor de Mello. Para que um político receba essa definição, os pesquisadores fazem uma avaliação dos discursos feitos por ele. Na média, são analisados quatro discursos por mandato.
A equipe do Team Populism tem uma escala para definir quão populista é um líder, sendo a avaliação 2,0 “muito populista”, 1,5 “populista”, 1,0 “um pouco populista” e 0 para aqueles que não se encaixam nessa definição. “A definição de populismo é a separação da política entre o bem e o mal, na qual o bem é o povo e o mal é definido como um tipo de elite que trabalha contra os interesses do povo. Para os populistas, quem não está a favor do povo, está a favor da elite. Portanto está contra a população”, explica Bruno Castanho Silva, doutor em Ciência Política e um dos responsáveis pelo projeto.
Bolsonaro: presidente do Brasil fica atrás de Trump em escala do populismo
Os discursos do venezuelano Hugo Chávez, para os pesquisadores, atingem 1,9 ponto na escala de populismo, o que faz de Chávez o líder mais populista estudado pelo grupo até agora. Atrás dele estão Nicolás Maduro, sucessor de Chávez na Venezuela, com 1,6 ponto; Recep Tayyip Erdoğan, da Turquia, com 1,5; Viktor Orbán, primeiro-ministro da Hungria, com 0,9; Silvio Berlusconi, ex-presidente do Conselho de Ministros da Itália, com 0,8; Donald Trump, presidente dos EUA, também com 0,8; Narenda Modi, primeiro-ministro da Índia com 0,6; Jair Bolsonaro, do Brasil, com 0,5; e Tony Blair, ex-primeiro-ministro do Reino Unido, com 0,1. A chanceler alemã Angela Merkel foi identificada como nada populista e não obteve nenhum ponto na escala.
Antes de Bolsonaro, o único presidente brasileiro a ter a mesma pontuação foi Collor, em 1989. “As semelhanças entre Bolsonaro e Collor estão, principalmente, na forma como eles falam contra a corrupção, criando a separação entre bem e mal para os eleitores. O Collor era o caçador de marajás e o Bolsonaro vem na esteira da Lava Jato”, diz.
Já os discursos dos ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso (0), Lula (0,25) nos dois mandatos, Dilma Rousseff (0) no primeiro mandato e Michel Temer (0) também foram avaliados. No segundo mandato de Dilma, antes do impeachment, ela chegou a 0,34 pontos. Getúlio Vargas, entendido como o presidente brasileiro mais populista para o estudo, marcou 1 ponto no primeiro período (1934-1945) e 0,92 durante o segundo (1951-1954).
Para Castanho, os governos petistas não foram tão populistas quanto o atual mandatário. “A diferença dos governos de Collor e Bolsonaro para os de Lula e Dilma, que não parecem populistas na nossa análise, é que, no discurso deles, não percebemos a pulverização da política como uma briga entre o bem e o mal”, diz. Para os pesquisadores, uma onda de populismo tem tomado conta do mundo nos últimos cinco anos, desde a eleição de Trump nos Estados Unidos até a vitória de Bolsonaro no Brasil. Segundo o Team Populism, mais de dois bilhões de pessoas vivem em países liderados por populistas. Há 17 anos, 120 milhões de pessoas estavam sob esse tipo de governo.
Os motivos por trás desse crescimento, porém, variam de país para país. “O que observamos como principais razões para o fortalecimento do populismo são pontos como a insatisfação com a classe política, a democracia representativa e também em relação a como o sistema político e partidário funciona. As pessoas não se sentem representadas e acabam se voltando para outsiders e populistas que pretendem mudar ‘tudo que está aí’. No Brasil, por exemplo, a ascensão do populismo tem muito a ver com essa ideia”, afirma.
Foto: © Adriano Machado