Salvador é a quinta cidade mais ‘aquecida’ do país nos últimos três meses, revela estudo
O aquecimento global afeta o mundo inteiro e isso não é novidade. Mas, um estudo internacional publicado neste mês, revela que Salvador está entre as cidades brasileiras mais afetadas pelo aumento das temperaturas climáticas. O relatório da Climate Central, organização americana de monitoramento meteorológico, indica que a capital baiana tem o quinto maior aumento de temperatura de todo o país, em comparação com a média histórica.
O estudo utiliza as médias registradas entre 1991 e 2020 e compara com as temperaturas registradas entre dezembro de 2023 e fevereiro deste ano. Foram analisadas 678 cidades de 175 países, sendo 15 brasileiras. Salvador aparece em quinto lugar no ranking, com aumento de temperatura de 0,84ºC nos últimos três meses. No país, a média de aquecimento foi 0,71ºC.
No início de março, a capital registrou temperaturas de até 33ºC, com sensação térmica de 35,3ºC. O recorde do ano foi registrado em 14 de janeiro, quando a temperatura chegou a 36,1ºC.
Vila Velha (ES), Goiânia (GO) e Campinas (SP) foram as cidades que apresentaram as maiores anomalias de temperatura, com aumento de 1,15ºC, 0,99ºC e 0,93ºC, respectivamente. “Principalmente através da queima de carvão, petróleo e gás natural, os humanos aumentaram a temperatura do planeta. Cientistas relatam que a temperatura média em 2023 foi de 1,5ºC mais quente do que os primeiros níveis industriais (1850-1900)”, pontua o relatório.
O estudo chama atenção para algumas regiões do planeta, como a América do Sul. “O padrão mostra uma exposição muito maior a temperaturas alteradas pelo clima ao longo da linha do Equador, com muitos locais no norte da América do Sul e na África Central”. Ainda de acordo com os pesquisadores, o resultado, na prática, é que a população vivencia as alterações de clima através de mudanças nas temperaturas diárias e nos padrões climáticos.
“A tendência, por conta do aquecimento global, é que as temperaturas do planeta aumentem cada vez mais e que ocorram cada vez mais extremos climáticos. Tivemos os meses de janeiro e fevereiro mais quentes da história e março também será”, prevê Cléber Souza, meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). A Bahia, por sua vez, esteve sob cinco ondas de calor só no ano passado, e cidades do estado registraram temperaturas acima dos 40ºC.
Além disso, a influência do El Niño (aquecimento das águas do Oceano Pacífico) colabora para o clima seco na região Nordeste do Brasil. Salvador é uma das três cidades da localidade com aumento da temperatura média registrada, segundo a análise do Climate Central. Aparecem também Recife (0,90ºC) e Maceió (0,77ºC).
“O fenômeno El Niño favoreceu o aumento da temperatura em todo o globo no ano passado. Tivemos um calor bastante quente no Brasil e as temperaturas também ficaram elevadas em regiões do hemisfério Norte”, pontua Cleber Souza. A Bósnia foi o país que registrou a maior anomalia climática, segundo o Climate Central, com um aumento de 4,09ºC. Na Romênia e na Sérvia, os termômetros subiram 3,97ºC. O El Niño deve começar a perder força a partir de abril.
Um outro fator que tem sido estudado há anos pelos pesquisadores e ajuda a montar a equação das mudanças climáticas está relacionado ao Norte do Brasil. Mais especificamente à Amazônia. A devastação da floresta impacta diretamente na evaporação da água, que mantém a umidade da atmosfera e espalha chuva para outras regiões do Brasil.
Um estudo de julho de 2021, liderado por Luciana Gatti, pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), revelou que partes degradadas da Amazônia estão liberando mais carbono na atmosfera do que recebendo, o que torna o Brasil mais suscetível a eventos extremos.
O desmatamento da floresta também foi destacado no relatório da organização americana. “Na bacia amazônica, temperaturas recordes emparelhadas com as mudanças climáticas a seca afetou milhares de meios de subsistência”, o que, segundo os especialistas, pode não ter solução.
“Os cientistas prevêem que as condições climáticas extremas induzidas pelo homem deixaram uma pegada permanente na biodiversidade e no ecossistema da Amazônia, à medida que os lagos locais atingiram 41°C e mataram centenas de peixes de água doce e golfinhos”, pontua o estudo.
Apesar de toda a população estar sujeita aos riscos do calor extremo, idosos, crianças e pessoas com comorbidades são as mais afetadas pelas altas temperaturas. Entre os problemas de saúde mais comuns estão desde elevação da temperatura corporal, vermelhidão e queimaduras na pele, dor de cabeça até a desidratação e pressão baixa. “
“Se não for controlado, o estresse térmico no organismo pode causar danos mais graves à saúde, como sobrecarga do coração e rins, e até mesmo risco à vida, sobretudo em idosos e crianças”, diz a médica dermatologista Marilia Acioli. Por isso, é importante é evitar ao máximo a exposição ao sol e ao calor.
“Beber bastante água ao longo do dia, em vez de grandes quantidades por vez, usar roupas leves e claras, que facilitem a evaporação do suor, e evitar atividades ao ar livre nos horários de maior incidência solar. Garantir a hidratação da pele, dos olhos e nariz”, indica a médica.
As 15 cidades mais aquecidas, de acordo com o estudo da Climate Central:
- Vila Velha (1,15°C)
- Goiânia (0,99°C)
- Campinas (0,93°C)
- Recife (0,90°C)
- Salvador (0,84°C)
- Maceió (0,77°C)
- Manaus (0,70°C)
- Belém (0,63°C)
- Curitiba (0,6°C)
- Brasília (0,59°C)
- Guarulhos (0,56°C)
- São Paulo (0,54°C)
- Rio de Janeiro (0,47°C)
- Porto Alegre (0,46°C)
Fonte: Correio