MBL-BA: “Nunca mais, nunca mais o despotismo/ regerá, regerá nossas ações”. – Simões Filho Fm
Redação

MBL-BA: “Nunca mais, nunca mais o despotismo/ regerá, regerá nossas ações”.


 
 
 

Daniel Almeida – Coordenador MBL – BA

E X C L U S I V O

Há na vida aqueles momentos significativos que não se empalidecem na memória. O nascimento de um filho, a morte de um ente querido, o primeiro amor, o coroamento de uma jornada. Gravam-se definitivamente na mente como a conferir ao desenrolar dos anos um sentido. Na vida histórica e política, há também desses momentos: a queda do muro de Berlim, o atentado ao arquiduque Ferdinando, o fim do Apartheid, 11 de setembro. Em uma proporção menor, cada nação tem seus períodos de ruptura e transformação, seus marcos temporais únicos e irrepetíveis.

A eleição do primeiro turno de Jair Bolsonaro é um deles. Talvez não pareça razoável imaginá-la assim. O que haveria de tão extraordinário em mais uma eleição, rito periodicamente revitalizado de toda democracia moderna? Por quê essa eleição, especificamente, seria tão singular? A resposta a essas perguntas encontra-se no contexto ideológico que precedeu essas eleições presidenciais e que delas forma as condições de possibilidade.

(Foto: Sérgio Pedreira/Folhapress)

Em 2013, a esquerda saiu às ruas exigindo redução nas tarifas de ônibus. O slogan: “não é só pelos 20 centavos”. Os agentes: movimentos de esquerda, tendo a frente o MPL (Movimento Passe Livre). A meta: forçar ao governo do PT a uma saída ainda mais à esquerda, muito mais abrangente que a mera redução tarifária. Eis que se tratava de uma dessas operações táticas de que a esquerda mundial já se valera em outras ocasiões históricas: dissolver as estruturas solidificadas de um governo de conciliação de classes para conduzir um processo de choque institucional, que deveria culminar na adoção das mesmas pautas de esqueda pelas quais correntes internas do próprio PT já lutavam havia mais de uma década.

Mas, tinha uma pedra no meio do caminho, no meio do caminho tinha uma pedra. Essa “pedra” era a população, que ao aderir massivamente às manifestações convocadas pelo MPL, levou suas pautas. A versão verde-e-amarelo de 2015 já estava ali presente. Os mesmos emblemas, símbolos e desejos: fim da corrupção, mudança na política, defesa da pátria. Os resultados saíram do controle: se a popularidade do governador de SP, Geraldo Alckmin, caiu, também caíram, drasticamente, a do prefeito petista eleito (Haddad teve seu índice de aprovação de 31% para 18%), e a da presidente (queda na aprovação de Dilma de 60% para 35%, precedendo o vertiginoso declínio que ocorreria um ano e meio mais tarde). E, nesse cadinho, novos atores eclodiram, um dos quais com sigla que lembrava o movimento do passe livre. Ao invés de MPL, tínhamos agora o MBL.

O MBL (Movimento Brasil Livre) nasce a partir de fins de 2014, e vai protagonizar novas manifestações. As grandes manifestações de 2015 e 2016 terão um alvo muito específico, entre as demais bandeiras de cunho liberal-conservador que o movimento apresentava, com amplo respaldo das classes médias: o impeachment de Dilma Rousseff. Vencendo enormes dificuldades, o MBL conquista uma posição rara, a de um articulador central do comitê do impeachment, que, ao contrário das iniciativas do seu quase homônimo, efetivamente alcançará o objetivo proposto.

Dilma cai, surge o imenso vácuo de representação política. Temer vem e tenta preenchê-lo. Contudo, os escândalos de corrupção, a debilildade dos posicionamentos ideológicos, e a linguagem política antiquada selam o destino do governo Temer.

É no contexto de enfraquecimento da esquerda, de Temer e do dito “centrão”, que vai crescendo outro nome: Jair Bolsonaro.

Bolsonaro que já vinha se fortalecendo, sem conhecer nenhuma queda, que já conseguira encarnar a vontade de mudança, o desejo pelo fim da corrupção sistemática, e o antipetismo poderoso que a sociedade brasileira havia alimentado, opera esse verdadeiro milagre que foi a eleição do primeiro turno.

Sem apoio da mídia, sem dinheiro, sem partido ao longo de boa parte da pré-campanha, sem tempo de TV, notavelmente destituído de gênio político, Bolsonaro cria a segunda maior bancada partidária do país. O PSL sai de um deputado para 52, pelo puro prestígio de Jair Bolsonaro e do que ele representa.

Tão gigantesca é essa virada de mesa, que as consequências atingem o coração da oligarquia política brasileira. Bolsonaro, sozinho, impõe uma derrota monstruosa ao PSDB e PMDB, cortando suas respectivas bancadas quase pela metade, revoluciona a estrutura do legislativo, destrói lideranças antigas da política, impõe novos nomes competitivos ao pleito do governo de 3 estados. É algo realmente extraordinário. Sopram os ventos da mudança com tamanha força, que são varridos quase todos os senadores eleitos. A taxa de renovação será de mais de 85% na alta câmara, a maior da história.

Diante disso, como fica o Nordeste, e, mais especificamente, a Bahia? O Nordeste é a única região em que o prestígio de Lula, haurido na época dos bons índices econômicos do governo, ainda resiste. Na Bahia, apesar dos péssimos índices econômicos e sociais (pior IDEB do país, record de homicídios totais, uma das piores saúdes do Brasil) a vitória de Rui Costa foi inequívoca, solidificando a bancada do legislativo com cerca de 30 deputados da base. Não apenas isso, a renovação pouco se deu na Bahia: os mesmos nomes a deputado e três senadores que são políticos de longa experiência, aliados do PT, 2 senadores foram eleitos. Todavia, não creio que haja motivo para desânimo.

Como ocorre muitas vezes em países de grandes contrastes societais, o Nordeste passa por uma transformação também, só que retardada. As condições de pobreza, desamparo e fragilização do povo nordestino fazem com o que o relógio histórico de nossa região bata os ponteiros mais lentamente. Mas bate.

A presença de um forte núcleo do MBL por aqui o revela. A eleição de alguns outsiders e a quase eleição de outros também aponta a mesma direção. Se a mudança chegou para o resto do Brasil, até quando a Bahia ficará fora dela? Um governo Bolsonaro, a meu juízo, aposta quase certa no segundo turno, trará um desafio representacional e político para Rui Costa dos mais temíveis. Também na Bahia o sino vai soar. Como diz o belo hino do 2 de julho: “Nunca mais, nunca mais o despotismo/ regerá, regerá nossas ações”.

Texto: Ricardo Almeida – Coordenador do Movimento Brasil Livre

 Exclusivo para o imprensaBahia.

NOTA DA REDAÇÃO: Daniel Almeida, Coordenador do MBL-BA, estará na bancada do Programa Panorama de Notícias, sendo entrevistado por Ataíde Barbosa, em uma entrevista inédita e exclusiva. Participação de Ferdinand Andrade – Presidente do Diretório do Partido Verde em Simões Filho. Amanhã, 24.10.18, a partir das 7h na Simões Filho FM 87.9


 
 
 

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