Deputada Janaína Paschoal: “Não tenho líderes nem gurus” – Simões Filho Fm
Redação

Deputada Janaína Paschoal: “Não tenho líderes nem gurus”


 
 
 

Ninguém, em sã consciência, pode considerar Janaína Paschoal, (PSL-SP), uma integrante de sua “turma”: é assim que se define a deputada mais votada da história do Brasil nas eleições passadas, eleita com 2 milhões de votos.

Em entrevista ao site EXAME, a parlamentar afirmou não ter nem gurus, nem líderes, reafirmou que não pretende se candidatar à Prefeitura de São Paulo, como dizem os boatos, e fez duras críticas ao presidente Jair Bolsonaro, a quem deu até um conselho de leitura: O Príncipe, de Maquiavel.

Confira abaixo as 15 respostas de Janaína Paschoal para a primeira entrevista da seção EXAME Pergunta:

EXAME: A senhora tem sido muito ativa nas redes sociais ultimamente. Elas são uma estratégia de aproximação com o povo ou apenas uma forma de demonstrar a sua opinião?

Janaína Paschoal: Com certeza, meu intuito é divulgar minhas ideias e estimular as pessoas a refletirem sobre suas próprias convicções. O brasileiro ainda lê pouco e as redes sociais findam reforçando essa prática de pouca leitura.

É comum as pessoas elegerem alguém para admirar e seguir, muitas vezes, cegamente. Eu tento traçar um caminho do meio. Tento incutir na cabeça dos indivíduos um “será?”. Então, o intuito nunca foi e nunca será eleitoreiro.

EXAME: A senhora postou recentemente que “desagrada gregos e troianos”. Por que acha que isso acontece?

JP: Justamente porque eu não tenho líderes nem gurus, não endeuso, nem demonizo, ninguém. Avalio atos e ideias. Esse modo de ser é muito raro e, por conseguinte, desagrada todo mundo. Ninguém, em sã consciência, pode me considerar da sua “turma”.

EXAME: Por que a senhora enxerga essa necessidade de Bolsonaro “deixar 64 em 64”?

JP: Houve uma Lei de Anistia. Para alcançar essa lei, foi necessário um processo político dolorido. A Lei foi considerada válida pelo STF, em um dos julgamentos mais consistentes e belos que a Corte já fez.

O PT passou os últimos 20 anos contando uma história pela metade. Agora, Bolsonaro, no lugar de olhar para frente, de nos permitir um futuro, insiste em abrir essa ferida! Pior, ao que parece, também busca contar uma história pela metade. Houve crimes dos dois lados, os dois lados foram anistiados.

Acabou! Vamos virar essa página.

EXAME: Essa dicotomia extrema de esquerda e direita e de partidos que acontece no Brasil é negativa para o país? Por que? Como isso atrapalha na tramitação de projetos? A senhora enxerga alguma forma de solucionar essa briga de lados?

JP: A dicotomia não é negativa. Negativa é a falta de divergência. O problema não é haver esquerda e direita, o que é saudável. O problema é haver enfrentamentos por enfrentamentos.

A reforma da Previdência, por exemplo, o próprio Lula falou, há anos, ser muito necessária. Mas como não é o PT que está fazendo, o PT é contra. Entende? Quando vão pensar no país? Não tem nada a ver com ideologia, tem a ver com poder. A ideologia é apenas um disfarce.

EXAME: O que os deputados precisam priorizar em momentos como esses?

JP: Precisamos todos priorizar o trabalho. São muitos eventos, muitas viagens. A maior parte, com todo respeito, inútil e completamente desconectada do objetivo do mandato.

EXAME: A senhora pretende se candidatar a prefeitura de São Paulo? O que acha que precisaria ser melhorado na cidade?

JP: Não serei candidata a prefeita. Eu vejo a cidade muito abandonada, os viadutos caindo, obras lentas. Para piorar, o prefeito insiste em derrubar o Minhocão, para construir um Parque, que não agrada ninguém. Eu não consigo compreender a mente do nosso prefeito.

EXAME: E quanto ao Doria? O que acha dele como governador?

JP: O governador esteve na Alesp, para uma reunião mensal com os deputados. Os parlamentares fazem seus pleitos, coisas bem objetivas, como um determinado aparelho para um Hospital de sua região. Ele vai anotando tudo, pedindo a sua equipe que anote. É muito ágil. Eu gostei do estilo, parece com o meu. Vamos observar.

Ando preocupada com a falta de detalhamento dos projetos que o governo envia para a Alesp, com o fim de enxugar a máquina estatal. A princípio, sou favorável, mas creio que seria importante detalhar mais, para o bem de todos nós.

EXAME: Nesta última sexta-feira, a senhora ajudou o deputado Douglas Garcia a se assumir como homossexual. Qual a importância disso para a senhora? Por que ele pediu para que você tomasse o palanque e assumisse isso por ele?

JP: As pessoas sabem que podem confiar em mim, sabem que eu não falo pelas costas, que o que tenho para dizer, eu digo na cara. Eu acredito que ele precisava de apoio e sentiu que poderia conseguir esse apoio em mim.

Ele estava muito aflito, com medo da reação da bancada, do partido, da Alesp, do movimento social que integra. Eu tentei reduzir a situação para o tamanho que realmente tinha. Espero que ele fique bem agora.

EXAME: Qual a sua visão sobre os 100 primeiros dias do governo de Bolsonaro? Quais os pontos negativos e positivos da gestão do atual presidente?

JP: O governo Bolsonaro é bom. O presidente tem ministros muito bons e ele próprio está determinado a governar de forma diferente. Vejo como positivo o fato de a reforma da Previdência e o plano Anticrime terem sido entregues, a guinada que está sendo dada na Infraestrutura, como o ministro Tarcísio, o protagonismo da ministra Damares, a presença dos militares.

O ponto negativo é que o presidente tem dificuldade para decidir. Ele não consegue demitir pessoas que, podem até ser boas, mas não têm condições de integrar a equipe. Ele tem o péssimo hábito de deixar as coisas seguirem, para ver o que acontece, mas a caneta está na mão dele e ele vai precisar ter coragem de usar.

EXAME: Que conselho você daria para Bolsonaro neste momento?

JP: Que leia O Príncipe, de Maquiavel. Se já leu, que releia. Maquiavel ensina, se tiver que fazer uma maldade, faça de uma vez.

EXAME: Os filhos do presidente têm causado algumas polêmicas nas redes sociais e fora delas. Eles atrapalham o governo do presidente?

JP: Eu acredito, verdadeiramente, que cada indivíduo é um indivíduo e, como tal, deve ser tratado. Por exemplo, o filho de Lula foi contratado para trabalhar na Alesp, como assessor de um Deputado do PT. Tem cabimento eu perseguir o rapaz, por causa do pai? Não tem.

Da mesma forma, fico intrigada com o fato de os analistas receberem cada tuite de um dos filhos do Presidente como se fossem do próprio Presidente. Os filhos já eram políticos antes, sempre foram polêmicos. Não podemos exigir que mudem seu estilo porque o pai se tornou Presidente.

Não obstante, na medida em que esses mal entendidos ocorrem, talvez devessem, antes de cada postagem, lembrar que suas falas podem impactar o governo do pai.

EXAME: Por que a senhora optou por não ser a vice de Bolsonaro?

JP: Como expliquei inúmeras vezes, eu propus ao presidente fixar a Vice-Presidência em São Paulo, a equipe dele não aceitou. Eu não poderia ir para Brasília nesta fase da minha vida. Então, depois de muito conversarmos, chegamos à conclusão de que eu poderia ajudar o país na condição de Deputada Estadual. Foi uma decisão conjunta.

EXAME: É possível o Brasil passar por outro impeachment?

JP: Espero nunca mais precisarmos recorrer a esse remédio extremo. No entanto, se precisarmos, devemos ter bem claro que o remédio é constitucional. Remédio é remédio. Melhor não precisar, mas, se precisar, melhor usar.

EXAME: Sobre a reforma da Previdência: qual a sua opinião? Você mudaria algo no projeto de Guedes?

JP: Eu entendo que a reforma precisa ser feita. A questão não é ideológica, é matemática. Impossível pagar 20, 30, 40 mil reais (ou mais), a pessoas que se aposentam aos 50 anos, até que essas pessoas completem 90 anos, o que não é raro nas camadas mais favorecidas.

Essa reforma, diferentemente do que vem sendo alardeado, é a maior distribuição de renda que o país vivenciará.

EXAME: E sobre o BPC? Você acha que essa mudança vai passar?

JP: O congresso tem todo direito de discutir e emendar a proposta. Hoje, o BCP inicia aos 65 anos. A reforma diminuiu o valor e antecipou o pagamento para os 60 anos. Aos 70, o pagamento volta a ser integral. Li que os congressistas querem manter o sistema atual. Que mantenham.

O importante é que esse ponto não sirva de desculpa para não aprovar todo o restante.

Fonte: Exame – Foto: A .

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